DIÁLOGOS ÍNTIMOS
(fantasia)
Jota Nil
(Tácito Silveira da Mota)
(O nosso banco, junto ao "belvedere",
estava vago. O sol banhava ainda
o jardim. Um perfume forte vinha
do próximo canteiro. Era jasmim...
Ela surgiu risonha como sempre,
e sem dizer palavra acomodou-se,
bem juntinha de mim, bem ao meu lado)
Eu:
Você está encantadora, meu amor!
Eu gosto imensamente desse seu vestido
branco, e do seu sorriso levemente irônico...
Hoje estou triste... E vejo em seu ar galhofeiro
que você zomba, ri desta minha tristeza...
Ela:
Antes de tudo, de mais nada, eu sou mulher,
e diante do elogio... rendo-me cativa
e feliz! E você, não se sente feliz
neste ambiente adorável, que nos incentiva
a admirar a vida, vendo a Natureza
que nos rodeia? Flores, o azul infinito,
um sol que se debruça sob um dossel doiro!
e bandos de andorinhas, estas borboletas
policromas, e aquele bando de crianças
a folgar, como em nossos corações, às vezes,
folgam tímidas, claras, doces esperanças...
Eu:
É romantismo seu. Não vejo o que descreve
com tanto ardor, paixão... Acho tudo banal,
insulso... corriqueiro; somente você
é uma deslumbrante exceção em tudo isto!
Ela:
Preciso construir minha felicidade...
Eu:
Sua felicidade é, pois, artificial!
Ela:
Não importa; o essencial é ser feliz na Vida...
Eu:
Bem sei. Quisera ter, como você, querida,
esse seu otimismo, essa mentalidade...
Ela:
Na procura do Belo, e fugindo às misérias
do mundo, encontrará dona Felicidade
um dia... - Mas talvez, por isso, me ache egoísta...
Eu:
Não! Uma mulher que, como você, na conquista
de um bem que não existe... Porque, se esquecendo
o lado mau da vida, necessariamente,
a face boa deixa de nos encantar
em breve; e você, ao se intimidar, sofreria...
(Emudecemos. E tudo dormita
no jardim. Um perfume forte vem
do próximo canteiro. É de jasmim...
No céu refulgem álgidas estrelas:
fez-se noite! bafeja-nos a brisa
quente da primavera; há arrepios
de amor em nossas bocas... Esmagamos
nossos lábios, sedentos, num sensual
beijo de amor: o lado bom da Vida...)
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